Felipe, de 12 anos, aparenta ser um jovem tímido e retraído, que não costuma conversar muito sobre sua rotina em casa. Na escola, busca participar de todas as atividades, mas sempre que envolvem assuntos pessoais, ele tenta mudar o foco ou até responder de maneira agressiva. Chegou a ser considerado por diversos alunos como, um ‘menino ogro’. No entanto, o que eles não sabiam era o que acontecia quando Felipe não estava nas salas de aula.
Como estudava de manhã, passava a tarde em casa. Tinha o costume de fazer as lições de casa e depois ir para a sala assistir televisão — uma rotina considerada normal para diversos adolescentes, a não ser pelo fato que, diariamente, sofria violações de sua mãe.
Seu pai trabalhava como cozinheiro em um restaurante e precisava passar o dia e, às vezes, o fim de semana fora de casa. Quando o final das aulas se aproximavam, Felipe ficava ansioso e angustiado, sem saber exatamente o porquê. Mantinha um segredo com sua mãe, que até então era considerado um pacto de confiança entre os dois.
Para Felipe, revelar o que acontecia quando seu pai saía, seria uma traição a própria mãe e, pior ainda, poderia ser um motivo de vergonha para o pai e a família. Sabia que tinha algo errado, mas como desconfiar de quem deveria protegê-lo?
Enfim a sexta-feira chegou. Seu pai preparava as coisas pois precisava sair às 9h para chegar às 10h no trabalho. A essa hora, Felipe estava na escola, só retornaria para casa por volta das 13h.
Como uma sexta-feira normal, o jovem chegou em casa e sua mãe o esperava para assistir um filme especial, o que faziam todas as semanas para comemorar a sexta. No meio do filme, o segredo entre os dois se perpetuavam e ali, Felipe sofria abusos sexuais, com o pretexto de que era apenas uma brincadeira entre os dois. O pequeno sabia que algo estava errado, mas não conseguia entender o porquê.
Até que um dia, na escola, os professores resolveram fazer uma gincana sobre direitos e deveres, a fim de estimular a temática para os alunos. Felipe foi sorteado para falar sobre violações de direitos, entre elas, a violência sexual, o que o incomodava extremamente. Com a brincadeira, Felipe pôde entender o que acontecia em casa e resolveu conversar com sua professora a respeito.
Ela não entendia porque sempre que tocava no assunto, Felipe ficava violento e se isolava. Após a conversa, pôde compreender a dor do aluno, que com pequenos sinais, demonstrava, todos os dias, a violência que sofria em casa.
Ao ouvir o relato, a professora imediatamente acionou a diretoria para que dessem andamento no caso e interrompessem a violação. Felipe confessou que tinha medo de magoar os seus pais e que em nenhum momento os abusos eram ruins fisicamente, confessou que, algumas vezes, era possível até sentir prazer, embora soubesse que a situação não estava certa. Ao entender que mesmo assim se tratava de uma coisa muito séria e que o colocava em risco, Felipe sabia que contar o acontecido para o pai era a coisa certa a se fazer.
Ao chegar em casa, decidido a conversar com seu pai, Felipe tentava encontrar uma maneira de contar o que passara por tanto tempo. Até que, sem delongas, resolveu falar. Sem reação, o pai de Felipe não conseguiu acreditar no que estava acontecendo. Para ele, era impossível que a mãe — pessoa que mais amava Felipe — poderia cometer tamanha atrocidade.
Envergonhado pela situação Felipe pediu para conversar com a professora novamente no dia seguinte, que logo solicitou para a diretoria a presença do responsável.
A essa altura, Felipe já sentia uma imensa tristeza, por tudo o que passou e por ver que magoou o pai, que após conversar com a professora, saiu convencido a proteger o filho. Felipe presenciou a separação dos pais e acreditava que a culpa por tudo o que estava acontecendo era dele.
Mas com muito apoio, resolveu, em conjunto com o pai, dar andamento no caso. Atualmente, Felipe passa por acompanhamento psicológico, a fim de tratar a depressão que desenvolveu, e o caso segue em apuração.
Os abusos duraram dois meses, mas Felipe carregará suas consequências para a vida toda. Sabe que ‘passo a passo’ pode ser feliz novamente, enquanto seu pai, tenta absorver todo o ocorrido, sem entender como um adulto, responsável pela plena proteção de uma criança, pôde cometer um crime assim contra o próprio filho.
Todos os dias, 40 crianças são vítimas de abuso sexual no Brasil. Todos somos responsáveis por mudar este cenário. Fique atento ao comportamento das crianças e se desconfiar de algo, denuncie. Participe da campanha! #PODESERABUSO.
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